DE PAULO PARA TIMÓTEO: MINISTÉRIO PASTORAL, LIDERANÇA E SERVIÇO - Primeira Parte (por Rev. Flávio Américo)

"Timóteo e sua avó", de Rembrandt Harmenszoon van Rijn, 1646.


O objetivo dessa série de textos é apresentar reflexões para a prática pastoral a partir da leitura das duas cartas do Apóstolo Paulo para Timóteo. Essas cartas, juntamente com a carta para Tito, formam as chamadas “Cartas Pastorais”, assim designadas por conterem muitas orientações de Paulo para os pastores mais jovens (Timóteo e Tito) quanto às práticas pastorais deles, além de outros conselhos.

É importante observar que esses textos bíblicos não são apenas para pastores ordenados, pois muito do ensino delas ajuda a igreja a amar, ajudar e escolher seus pastores e demais líderes ordenados, bem como possuem orientações para todos os cristãos quanto aos princípios de liderança e serviço cristãos nos mais diversos ministérios da igreja. 

A primeira lição é que o ministério pastoral é fruto de uma divina vocação. Da leitura das duas cartas de Paulo para Timóteo, é fácil depreender que o primeiro se sabe chamado por Deus para sua tarefa ministerial. Ele sabe que é pregador do Evangelho para os gentios não por vontade própria, mas por divina vocação. Paulo sabe que Timóteo também foi chamado para o ministério e lembra o jovem pastor disso, para que, apesar da juventude e dos diversos desafios, mantenha-se firme no ministério. (1Tm 1.1, 8; 2.7; 6.14; 2Tm 1.1, 6, 11-14; 2.4-5, 15). 

Saber que ser pastor não é uma escolha pessoal, mas uma missão dada por Deus dá forças para seguir em frente diante das dificuldades. O mesmo acontece com qualquer ministério ou atividade de liderança na igreja. No meu caso, um jovem pastor como era Timóteo quando das cartas paulinas para ele, manter-se ciente de que tenho um Deus gracioso que me salvou e me chamou para ensinar a Palavra a outros crentes e para pastoreá-los faz-me ficar firme diante das pressões diversas para desistir ou para não cumprir com meus deveres, pressões tanto internas (meus próprios pecados e medos) quanto externas (oposição à sã doutrina ou tentativas humanas de controlar a igreja). 

A segunda lição é que é muito importante que um pastor experiente oriente um pastor mais jovem. Paulo teve em Timóteo um amado e leal companheiro de ministério, mas teve também nele um jovem pastor a quem o experiente apóstolo pôde treinar para o ministério (16.1; Rm 16.21; 1Co 4.17; 1Tm 1.2, 18; 2.1-7; 3.14; 4.6-16; 6.11-16; 2Tm 1.2, 6;2.1; 3.10-11;4.9). É muito importante para jovens pastores ter pastores experientes que ajudem no início do ministério. Graças a Deus, tenho tido boas experiências nesse sentido. Louvo ao Pai Eterno por ter gente como o Rev. Marcos Tadeu Torres, Rev. Ricardo Barbosa e o Rev. Valdeci Santos como verdadeiros pais que me ajudam a corrigir rotas, a lembrar do essencial, a me arrepender de pecados e a seguir em frente na santa vocação. 

Os líderes cristãos e crentes em geral, nos mais diversos ministérios, também devem ter humildade para aprender com os mais velhos. Isso não significa fazer do mesmo jeito, pois os mais experientes podem e têm experiências equivocadas. Aprender com os que vieram antes de nós, inclusive os que conhecemos apenas por seus escritos ou através da História, implica em estar disposto a ouvir e em aprender com os acertos e os erros deles. 

A terceira lição retirada da leitura das duas cartas aqui analisadas diz respeito ao fato de que é dever do ministro do Evangelho manter-se firme ensinando a sã doutrina. Diversas vezes ao longo das duas epístolas, Paulo orienta Timóteo a ficar firme na sã doutrina, doutrina essa contida, no contexto da carta, nas Escrituras do Antigo Testamento e no ensino apostólico (1Tm 6.3-5; 2Tm 1.13-14; 2Tm 2.2, 15, 24-26; 2Tm 3.14-17). Muitas pessoas, chamadas por Paulo de falsos mestres, ensinavam heresias no meio do povo. o Apóstolo dos Gentios, então, exorta Timóteo a manter-se firme no ensino daquilo que ele recebeu, o depósito da fé a ele confiado. 

Os desafios pastorais hoje também trazem a questão de manter-se firme diante dos falsos ensinamentos que circulam no meio da igreja. Já são mais de dois mil anos de combate às heresias no seio do Cristianismo, falsas doutrinas estas das mais diferentes formas e origens. Numa época com tanto amor pelo novo e ódio pelo antigo, é muito importante lembrar-se da Palavra de Deus, que, mesmo sendo um livro antigo, continua atual e assim permanecerá até a consumação dos séculos. 

Num tempo em que os púlpitos são tomados por Teologia da Prosperidade, autoajuda, psicologia barata, cultura coaching e outro modismos que tentam dar sentido à vida das pessoas ou ajudá-las a viver melhor, ser um fiel expositor bíblico é um desafio por causa da sensação que podemos experimentar de que as pessoas não querem mais a sã doutrina, aliás, algo que o apóstolo disse que aconteceria (“haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina” – 2Tm 4.3). Todo crente, por sua vez, deve amar a sã doutrina e deve estar atento para ver se seus pastores e líderes estão ancorados nela. O desafio a Timóteo continua o mesmo para os pastores de hoje: “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2).



CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA...

Comentários

Unknown disse…
Muito confortante saber que foi Deus que nos chamou ao ministério. Que essas reflexões possam nos inspirar a sermos, em tudo, encontrados fiéis.
Ligia disse…
Como é maravilhoso aprender mais de Deus...e conhece-lo...viver cristo...