O COMPROMISSO SOCIAL CALVINISTA (por Lic. Ítalo Reis).




O reformador João Calvino (1509-1564) entendia que a redenção em Cristo deveria gerar claras transformações na vida dos crentes e na sociedade na qual estão inseridos. A cidade de Genebra é um bom exemplo de como Calvino aplicou, na prática, as ações da igreja como agente da redenção. 

De acordo com Calvino, os diáconos eram responsáveis por “tratar e pensar nos doentes, além de administrar as porções dos pobres”. Neste processo, um grupo eleito de diáconos ajudava os idosos que não podiam trabalhar, promovendo asilo, e tratavam das viúvas e das crianças órfãs, construindo alojamentos quando não tinham onde morar. 

Além disso, os diáconos também tinham o compromisso de dar qualificação profissional para os desempregados de Genebra, para que estes não ficassem desassistidos. 

Foi grande a luta pelo reajuste dos salários e, neste ponto, os reformadores genebrinos se engajaram fortemente na luta por melhores salários. O próprio Calvino exigia que fossem pagos salários com os quais as pessoas da cidade pudessem viver decentemente, o que garantiu o teto e o piso salarial em Genebra, além de ser o inicio de algo novo para seu tempo o salário mínimo. 

Assim, uma consciência redimida e livre do pecado, do domínio do mundo e de Satanás faz com que a Igreja tenha intenso respeito e cuidado com os necessitados, estendendo o amor para fora dos arraiais do templo. 

O segundo aspecto da ação da Igreja era o seu comprometimento com a política. Neste sentido, Calvino explica que, “em primeiro lugar, os magistrados são por Deus instalados para a guarda e a conservação, tanto da religião, quanto da tranquilidade e da ordem pública”, por isso devemos orar por eles, mesmo que sejam maus, pois Deus tem poder de tornam a maldade em bondade. 

A segunda ação da Igreja na política, para o reformador, é que esta tem o compromisso de advertir os erros ou corrupções que os políticos estão cometendo, de modo que a Igreja deveria ser uma “vigilante da justiça social”. 

Sobre isto Calvino afirma que, tal como os profetas que se levantavam para censurar os reis maus, a Igreja deveria censurar os políticos corruptos. Assim, comenta que “se houvesse injustiça demasiada e vil de quem reina entre o povo em geral...eis que o profeta deve mostrar”. 

Neste sentido, uma das injustiças a que Calvino se referia era quando, num Estado, os líderes políticos subjugam os pobres, pois os reformadores genebrinos pensavam que a Igreja deveria tomar a defesa dos pobres quando estes estivessem sendo subjugados. Disse Calvino: “Adverte o profeta, em suma, por quais sinais poder-se-á conhecer um governo justo e bem moderado, a saber, se fazem justiça aos pobres e aflitos”.

Comentando sobre estas posições de Calvino que se aplicaram à Igreja de Genebra, o teólogo André Biéler é assertivo ao constatar que, “segundo o Evangelho, todo ser é promovido à liberdade espiritual pela redenção em Jesus Cristo, e esta liberdade deve expressar-se também na condição política e social da pessoa humana”. 

Deste modo, todo espaço onde o Evangelho de Jesus chega e liberta, a Igreja que se forma torna-se agente de uma libertação, que afeta todas as áreas da sociedade.

Comentários

Renato Sales disse…
Boa tarde meu irmão Ítalo.
Parabéns pelo Artigo "O COMPROMISSO SOCIAL CALVINISTA" - acabei de lê-lo e achei-o enxuto e oportuno para esse tempo de desinteresse e omissão da Obra Social da Igreja contemporânea - como também, a alienação, quase total na questão política do país.
Concordo plenamente com Calvino que a Igreja tem sim que promover Ações que desencadeiem transformações sociais e também políticas na sociedade - como ele fez em Genebra. Assim sendo, a Igreja onde ela estar inserida tem o dever de ser esse ente de libertação não só espiritual, mas, social e política. Conquanto, não é isso que vemos no quadro geral em nossos dias. Uma pergunta - que nos ajuda a mostrar o quanto estamos fazendo de algo relevante ou não nestas áreas é a que o Pr. Sérgio Lira (IPB) fez em uma de suas palestras que assisti: "Se sua Igreja saísse do lugar em que ela estar - faria alguma falta a comunidade local?". Se formos sinceros a resposta será - a maioria "NÃO". Se Calvino estivesse vivo hoje, certamente, não estaria nada satisfeito com o que viria em nossa amada IPB. Não que ela não tem feito nada. Temos potencial para fazer muito mais como as igrejas locais e não só como Igreja Nacional.
Para não me delongar pois é apenas um comentário. Que o Senhor nos visite com uma graça renovada e poderosa, afim, de que nos engajemos mais na Missão Integral da Igreja - que abrange as lutas e promoções sociais apontadas por Calvino... como também o alçar da voz profética denunciando todas as práticas corruptas daquele que se vestem de "defensores dos direitos do povo" e, que só surro peiam e apropriam-se indevidamente do erário público. Creio na soberania de Deus e sei que tudo está no Seu devido controle.