Essa inteligente expressão coloquial surgiu da
vida de transporte de boiadas pelos interiores do nosso Brasil. Diante do
perigo de se perder uma boiada para um rio cheio de piranhas, sacrificava-se
uma rês mais velha ou doente para poupar o rebanho. Na prática, funcionava como
uma estratégia de desviar a atenção do mais importante, como muitas jogadas
ensaiadas no futebol, para citar agora um exemplo esportivo.
A
onda reformada da Igreja Brasileira tem muita coisa boa, como a volta da
exposição bíblica nos púlpitos ao invés de mensagens de auto-ajuda ou baseadas
em jargões evangélicos; a valorização da História da Igreja no lugar de se
pensar que o Corpo de Cristo tem apenas o tempo de vida do ministério da minha
comunidade local; a retomada das principais doutrinas oriundas da Reforma do
XVI substituindo as diversas loucuras do mundo gospel; uma discussão mais ampla
e consciente sobre cosmovisão, evitando a secularização da vida cristã; e por
aí vai.
Como
Paulo ensina em Romanos 6-8, não
somos, nós os crentes, mais escravos do pecado, mas ele continua dando um
trabalho enorme e nos atrapalhando no processo de sermos mais parecidos com
Cristo. Assim, uma coisa boa como a retomada de valores protestantes e,
especificamente, da tradição reformada, não estão livres de aspectos ruins em
sua efetivação na Igreja contemporânea.
Existe
muita confusão e pecado no crescimento das fileiras reformadas no Brasil. Para
citar apenas um exemplo, meninos com idade perto dos 20 anos acham que porque aprenderam
dois dedos de Teologia em poucas palavras, assuntos discutidos por gente séria
há dois mil, são verdadeiros guardiães da consciência cristã, o cumprimento
perfeito de tipos como Spurgeon ou Bucer.
É muito bom que existam canais e
eventos reformados, mas eles não dão aos meninos que estão deixando a barba
crescer o direito de desrespeitar seus pastores e seus irmãos, tratá-los como
se fossem tolos ou iletrados ou mesmo deixar de se congregar em uma comunidade
local, como se a internet e seus vídeos fossem a igreja deles.
Tem muito
neoreformado neófito (para não usar neocalvinista, nome do movimento reformado
holandês que tem em Kuyper um dos principais nomes) que está mais preocupado em
mitar, zerar a internet, ganhar os óculos (meme) ou ouvir Turn Down For What depois de lacrar com alguma frase contra um
suposto herege. A Glória de Deus não é o objetivo, é a própria glória. Isso resta
evidente na auto-promoção nas redes sociais e na vida de celebridade, que diz o
que vai vestir para ir à Igreja, que mostra o que vai comer, que divulga o
livro recentemente lido ou que faz de tudo para mostrar na internet que tem
livros em casa. Tem irmão dando o comovente testemunho de como humilhou um
adversário em debate. A causa reformada é uma bênção, mas é possível lutar por
ela pelo motivo errado.
E o boi de piranha? Explico lembrando uma
passagem do Evangelho de Lucas (Lc
12:13-21). Um homem, que estava em conflito com o irmão por causa da divisão de uma herança deixada para eles, pede ajuda a Jesus.
Além do evidente
assunto da relação do crente com os bens materiais, a seção tem uma outra
discussão rolando, que é a questão de que devemos prestar atenção naquilo que não se vê: O fermento
dos fariseus, que é a tentativa hipócrita deles de esconder dos nossos olhos
quem eles realmente são (Lc 12:1-12); a confiança, vendo como Deus cuida do presente, que
Ele continuará cuidando no futuro que ainda não vemos (Lc 12:22-34); a certeza de que o Senhor,
que não estamos vendo agora, voltará para nos julgar e ver como cuidamos
daquilo que Ele nos confiou (Lc 12:35-48).
Na história do dois irmãos em disputa por uma herança, resumindo, Jesus responde que não tem nada com o aspecto legal da
herança em disputa, mas que pode ajudar o homem que o procura (e a cada um de
nós) a pensar algo mais profundo e que podemos não estar vendo: nosso coração. Ser rico para com Deus é tê-lo como nosso bem
mais precioso, nosso tesouro, é estar em Cristo.
Tem muito teólogo de internet que mora com os pais e quer reformar a Igreja Brasileira, mas que não entende que isso é seu próprio pecado usando a estratégia do boi de piranha, isto é, evitando que ele perceba que Jesus quer primeiramente reformar quem somos. O principal interesse de nosso Senhor não é, outra vaquinha que foi usada para tentar distraí-lo, se pagamos impostos a César (nem mesmo a quantidade desses impostos ou se eles retornam). Essencialmente, Cristo quer que meditemos sobre a quem pertencemos (Lc 20:19-26).
Tem muito teólogo de internet que mora com os pais e quer reformar a Igreja Brasileira, mas que não entende que isso é seu próprio pecado usando a estratégia do boi de piranha, isto é, evitando que ele perceba que Jesus quer primeiramente reformar quem somos. O principal interesse de nosso Senhor não é, outra vaquinha que foi usada para tentar distraí-lo, se pagamos impostos a César (nem mesmo a quantidade desses impostos ou se eles retornam). Essencialmente, Cristo quer que meditemos sobre a quem pertencemos (Lc 20:19-26).
Para continuar a discussão, veja:
Comentários